EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA NA PRIMEIRA INFÂNCIA: O CAMPO DAS RESPONSABILIDADES
Ao longo de
muitos anos , a educação de crianças pequenas foi entendida como actividade de
responsabilidade familiar, especificamente da mãe ou mulher (OLIVEIRA, 2007). O
atendimento educacional fora da família era compreendido por creches
reivindicadas pelas mães trabalhadoras, ou locais de cuidados de crianças
pobres, órfãs e abandonadas numa concepção assistencialista (ASSIS, 2004). Nos
séculos XV e XVI, as acções ocorridas pelo Renascimento provocaram novas visões
sobre a criança e sua educação. Autores como Erasmo (1465-1530) e Montaigne
(1483-1553) sustentavam que a educação deveria respeitar a natureza infantil e
estimular a actividade da criança (OLIVEIRA, 2007).
Froebel em seus jardins-de-infância pretendia
formar uma educação pré-escolar com estrutura familiar e cuidados dedicados à
infância numa relação entre esferas pública e privada (KUHLMAN, 2001). Para
Froebel, a educação deveria propiciar condições que possibilitassem a
manifestação e expressão da criança. O jardim-de-infância era considerado como
uma livre república da infância, em que as crianças pudessem crescer como
gente, com o elemento humano que determina a essência do homem.
ANGOTTI,
2003). O autor defendia que a educação fosse ministrada pelas mulheres, ao que
chamava de jardineiras, em que estas transcendessem seus papéis domésticos
privados, aplicando suas qualidades maternais no contexto público da instituição.
Conforme
Angotti (2003), a relação professor-aluno encontra-se estabelecida a partir da
analogia entre a jardineira e seu jardim, seguindo o modelo da inteiração
maternal existente, em que a professora deverá observar e acompanhar o
desenvolvimento da criança, promovendo condições para que seja alcançado. Os
jardins-de-infância divergiam das creches e casas assistenciais daquela época,
por incluírem uma dimensão pedagógica. Esta divergência entre os
jardins-de-infância e as creches, por parte de instituições da primeira,
provocaram intenções económicas.
O professor
deve ser responsável em instrumentalizar o indivíduo para que ele possa se
expressar e optimizar seu potencial (ANGOTTI, 2003). No Brasil, inicialmente as
instituições foram criadas com carácter de protecção as crianças, e vinculadas
à área da saúde num contexto assistencialista. Somente pela Lei 5692/71, é que
crianças com idade inferior a 7 anos foram reconhecidas na condição de cidadãs
de direitos, e assim devendo ser atendidas dentro da condição do direito
social, em jardins-de-infância, maternais ou instituições equivalentes. A
partir da Constituição de 1988,
a criança teve seu direito garantido à educação, efectivando
o seu atendimento em creches e pré escolas, que pela Emenda Constitucional nº
53, de 2006, teve inserido no corpo constitucional o termo Educação Infantil.
Desta maneira, o acesso à educação deve ser garantido pelo Poder Público, em cor
responsabilidade com a família e o apoio da sociedade. Com a LDEBEN nº 9394/96
a educação infantil é instituída etapa integrante da educação básica,
definindo-se pelo atendimento às crianças em creches (de 0 a 3 anos), e pré- escolas (4 a 6 anos). A referida Lei
reconhece a importância em se promover o desenvolvimento integral da criança em
instituições educacionais, uma vez que até então os atendimentos estavam
vinculados aos órgãos de assistência. O art. 29 da referida Lei, estabelece
como finalidade da educação infantil o desenvolvimento integral da criança em
seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social. A educação infantil,
assim será norteada por carácter educacional, que deverá considerar
profissionais na condição de educadores e não meros funcionários, de terem
formação específica para fundamentar e definir um novo fazer educacional, para
atender e promover o desenvolvimento da criança (ANGOTTI, 2006). Desde o
nascimento, a criança desenvolve seu corpo e movimentos. O movimento do tronco em
direção ao que se deseja olhar, o girar para ouvir ou pegar algo, a criança vai
conhecendo sua estrutura física e movendo-se conforme motivação. Neste sentido
Angotti (2006), fala que o corpo deve ser entendido e trabalhado enquanto
primeiro brinquedo e instrumento de ludicidade infantil, e ferramenta de
leituras interpretativas do mundo, o que representa uma grande responsabilidade
para o professor que irá trabalhar com esta criança. Conforme posto, é bem
complexo o trabalho a ser realizado junto à criança na primeira infância,
sobretudo pela finalidade educacional que busca promover o desenvolvimento
integral da criança. Para tanto, a atuação do professor em Educação Infantil
deve ter intencionalidade educativa, planejamento prévio, acompanhamento e
avaliação. O sucesso desta interação é imprescindível para formalizar o processo
educativo .
Angotti (2006) reforça o papel significativo
do educador que precisa inserir a criança no mundo do conhecimento, na
alfabetização de mundo propiciando-lhe desenvolvimento integral, seguro e
significativo, pois que experienciado. Infelizmente, a desinformação sobre a
infância vem causando concepções e práticas pedagógicas pouco adequadas em
relação à criança (ANGOTTI, 2009). Podemos citar, como: a falta de conhecimento
no desenvolvimento infantil, a concepção de educação infantil como preparatória
para ingresso no ensino fundamental, dentro desta questão um retrocesso da
legislação que incluiu as crianças de 6 anos no 1º ano do ensino fundamental, a
preocupação da alfabetização precoce da leitura e escrita, currículos
escolarizantes, muito tempo dentro de salas. A educação infantil não pode mais
ser vista de forma assistencialista, mas como primeira etapa da educação básica
que em ambientes educacionais promove o desenvolvimento integral da criança em
todos seus aspectos, cuidando e educando, privilegiando o brincar (ludicidade),
a experimentação e o relacionamento com o mundo pelas diferentes linguagens.
O novo contexto educacional requer a
perspectiva de um atendimento mais lúdico e de práticas pedagógicas mais
flexíveis, que atenda e promova o desenvolvimento infantil, que compreenda a
criança em sua singularidade e que permita a ela apresentar seu olhar e leitura
de mundo, que estimule e permita o ato criativo, que respeite sentimentos e
emoções, que valorize as diferentes formas de expressão infantil. A criança
precisa e tem por direito a promoção de seu desenvolvimento integral,
potencial. Assim se afirma no campo das responsabilidades, o necessário compromisso
profissional no investimento de um atendimento educacional de qualidade, porém
revela a responsabilidade da família e da comunidade com este processo,
reconhecendo e valorizando a Educação Infantil como parte integrante do sistema
educacional brasileiro.
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA NA PRIMEIRA INFÂNCIA: O CAMPO DAS RESPONSABILIDADES
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